A atual vereadora do PT em Florianópolis expõe a necessidade de trazer para o debate político pautas que historicamente foram invisibilizadas na disputa eleitoral em Santa Catarina.
Após convites e um intenso diálogo com lideranças do Partido dos Trabalhadores, a vereadora de Florianópolis Carla Ayres, anunciou na noite desta quarta-feira (08), em um ato junto a apoiadores na Câmara Municipal, a sua pré-candidatura à deputada federal nas eleições de 2022. Primeira mulher assumidamente lésbica a ocupar o legislativo municipal na capital catarinense, Carla Ayres possui um longo histórico de luta em defesa dos direitos das mulheres e da população LGBTI+. Eleita com 2094 votos em 2020, a vereadora tem se destacado em Florianópolis com projetos como o de combate à pobreza menstrual, de empregabilidade para travestis e transexuais, de incentivo às pesquisas e distribuição de medicamentos à base de cannabis medicinal e o projeto de combate às mudanças climáticas.
Em meio à crise econômica e social, aprofundadas sobretudo após a eleição de Jair Bolsonaro, a pré-candidatura de Carla Ayres à deputada federal representa um esforço de trazer para a discussão política do próximo ano pautas que historicamente são invisibilizadas nas disputas proporcionais em Santa Catarina. Nas eleições de 2018, questões como feminismo e direitos da população LGBTI+ foram distorcidas e utilizadas por setores da extrema direita para propagar fake news e desinformação. Expressões de violência como a misoginia e a LGBTIfobia avançaram na agenda política, ao passo em que esses corpos começaram a ocupar os espaços de poder e decisão. A postura de boa parte das(dos) parlamentares que hoje representam o estado na Câmara Federal indica que novamente as mulheres e a população LGBTI+ serão atacadas na campanha eleitoral do próximo ano, o que reforça a importância da pré-candidatura de Carla Ayres em Santa Catarina.
O discurso de ódio e os ataques contra as minorias se intensificaram ainda antes da eleição de Bolsonaro. Para Carla Ayres, esse processo ganhou força em 2016. “Em seu último discurso antes de deixar o cargo, a então presidenta Dilma Rousseff alertava que o golpe era misógino, homofóbico e racista. O que se viu foi justamente o aprofundamento da violência contra nossos corpos e nossas vidas. Entretanto, as eleições de 2020 mostraram que o Brasil anseia por representatividade e diversos mandatos associados à essas minorias foram eleitos para câmaras municipais de todo o país. Dentre esses mandatos que trouxeram renovação aos legislativos, estava o nosso mandato aqui em Florianópolis. Desde então, temos trabalhado e resistido contra a misoginia e LGBTIfobia que se opõe à nossa permanência neste espaço”.
De acordo com Carla Ayres, o lançamento de sua pré-candidatura à deputada federal é resultado de um longo processo de debate que considerou o cenário atual do Brasil e de Santa Catarina, os compromissos partidários e o diálogo junto a diversas eleitoras e eleitores. “Muito nos preocupou o fato de estar sendo candidata após o primeiro ano de mandato na Câmara Municipal, entretanto, nós não estamos abrindo mão do nosso mandato em Florianópolis, continuaremos trabalhando em 2022 de forma tão intensa como fizemos até aqui. Chegamos a conclusão de que a nossa pré-candidatura é necessária tendo em vista o que estará em jogo nas eleições de 2022”.
Carla destaca a perda de direitos das trabalhadoras e trabalhadores, o retorno do Brasil ao mapa da fome e a tragédia humanitária promovida pelo governo Bolsonaro na condução da pandemia de Covid-19 no país, como evidências da necessidade de qualificarmos a representação catarinense na Câmara Federal. “Bolsonaro não teria feito o que fez e o Brasil não estaria nesta situação dramática, se a maioria das(dos) parlamentares da Câmara Federal e do Senado não o apoiassem. Com raras exceções, as(os) representantes catarinenses no Congresso foram avalistas dessa política de desmonte dos direitos sociais conquistado durante os governos de Lula e Dilma; de aprofundamento da fome e da miséria; de ampliação da concentração de renda; e de fragilização das instituições democráticas, frente à escalada autoritária de Bolsonaro. Isso reforça a importância de renovarmos a representação catarinense na Câmara Federal e a nossa pré-candidatura vai caminhar neste sentido. Também temos percebido movimentos semelhantes vindos de todos os cantos do país, através de mandatos de luta como o nosso, que entendem a importância de disputar as eleições do próximo ano para contrapor a violência, a misoginia, a LGBTIfobia e o racismo que ganharam espaço na política nacional”.
Carla Ayres também pontua o enfraquecimento do apoio a Bolsonaro em Santa Catarina e a esperança representada pela provável candidatura de Lula, como elementos centrais da disputa em 2022. “As mais recentes pesquisas realizadas no estado apontam para um acelerado processo de derretimento do apoio a Bolsonaro em Santa Catarina, ao passo em que Lula vem recuperando sua aprovação e intenções de voto no estado. Ainda há muito tempo para o início da campanha, contudo, a presença de Lula nas urnas poderá fortalecer ainda mais as candidaturas que representam a renovação da representação catarinense na Câmara Federal. Quando a campanha começar e a população puder comparar os projetos de país que estarão nas urnas, certamente o resultado será muito diferente do que tivemos em 2018”.
Sobre Carla Ayres
Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá, Carla Ayres é mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos e doutora em Sociologia Política pela UFSC. Militando no movimento estudantil, aos 16 anos se filiou ao Partido dos Trabalhadores, onde permanece até hoje. Em Florianópolis, Carla Ayres foi uma das fundadoras da ONG Acontece e participou ativamente da criação do Conselho Municipal LGBT. Carla também contribui para uma consultoria internacional do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), contribuindo para a construção, elaboração e monitoramento de Políticas Públicas no Brasil. Além da luta em defesa dos direitos da comunidade LGBTI+, Carla Ayres também milita no movimento feminista, buscando reduzir as disparidades sociais e ampliar o combate à violência contra as mulheres. Ocupou a Câmara como suplente nos anos de 2018, 2019 e 2020, quando se tornou, aos 32 anos, a primeira vereadora da história eleita pelo PT em Florianópolis, com 2.094 votos.