Sobre mim

Somos una especie en viaje.
No tenemos pertenencias,
sino equipaje.

Vamos con el polen en el viento.

Estamos vivos porque
estamos en movimiento.

(Movimiento - Jorge Drexler)

Nasci em 15 de março de 1988 em Jales, interior de São Paulo – filha da Dona Marly e do Tony, trabalhadores autônomos que entre 1990 e 1993 mudaram-se para Vilhena-RO naquele processo de expansão econômica do país para região norte, na tentativa de melhorar de vida. O objetivo não deu certo, nem pra família, nem pra mim que adoeci e meus pais retornaram pra nossa cidade natal. 

Carla Ayres no Centro Leste.

 

Cresci nesta pequena cidade do interior e aos meus 10 anos duas mudanças bem fortes para infância de qualquer pessoa: a chegada de uma irmãzinha e a separação de meus pais. Ambos processos quase concomitantes foram fundamentais para constituição de quem sou hoje. Com a separação, uma das primeiras frases feministas que ouvi na vida veio de minha mãe: “filha, aprende uma coisa – você não precisa ficar com alguém, nem viver a vida todo com um homem, passando raiva e vergonha, pra ser feliz”. Desde então o auxilio no cuidado com a pequena, a vivência e o testemunho de uma mãe que voltou a estudar, trabalhar e criou sozinha duas filhas só reforçaram um dos maiores imaginários de futuro de qualquer família brasileira: estudar, fazer faculdade, me formar numa Universidade Pública, “ser alguém”. Eu, que já integrava o Grêmio estudantil da minha escola desde os 14 anos, me filiei ao Partido dos Trabalhadores em 2004, então com 16 anos.  

Em 2007 me mudei para Maringá-PR, onde cursei Ciência Sociais na Universidade Estadual de Maringá. Filha de trabalhadores, seria a primeira pessoas da família a ingressar numa graduação, ainda mais pública. Sou fruto dos projetos de expansão da educação pública superior implementada pelos governos petistas. Ao longo de 4 anos só pude concluir os estudos porque fui beneficiada com programas de permanência como bolsas de iniciação científicas e de extensão. Foi nesse período que aconteceu a minha saída do armário e conheci de frente o que chamamos de “movimento social”, “ONGs”, “militância”, etc.

Em 2011 ingressei no mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos. Mais uma vez, fruto das políticas de expansão universitária: bolsista, professora voluntária no cursinho comunitário, moradora da residência estudantil, muito debate e construção de melhores condições de para que as(os) filhas(os) da classe trabalhadora pudesse se formar. A atuação no movimento social ficou mais intensa: construímos Paradas de Orgulho LGBTI+, conferências, e a ONG Visibilidade que foi minha primeira casa de militância social.

O ano de 2012 me trouxe à Florianópolis, cidade que me apaixonei e que escolhi para viver. Aqui me estabeleço desde então, pois considerando que somos uma espécie em viagem, trazemos conosco – não pertences – mas a bagagem que nos mantém vivas(os) por que estamos em movimento. Nossa vida e nossa ânsia de ser e mudar as coisas nunca nos deixa quietas(os). Por isso a militância e o ativismo que marcam minha estada aqui tem várias facetas de uma só luta: a construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.

Entre os anos de 2013 e 2014 finalizei meu mestrado, iniciei o doutorado em Sociologia Política na UFSC, e também contribui para uma consultoria internacional do PNUD para construção, elaboração e monitoramento de Políticas Públicas no Brasil.

Carla Ayres na Marcha Nacional ao Combate à Homofobia, em Brasília.

Nas eleições de 2016, pela primeira vez concorri a vereadora em Florianópolis, em uma construção coletiva de movimentos LGBTI+ e feministas que viram a necessidade de termos uma representação na Câmara Municipal. Mesmo com pouquíssimos recursos e realizando uma campanha apenas com voluntários, conquistamos 1080 votos e a terceira suplência em nossa chapa. Já em 2018 nosso coletivo decidiu por uma candidatura a deputada estadual. Ao todos quase 7500 catarinenses confiaram em nosso trabalho. Já em 2020, em nova candidatura a vereadora, conquistamos uma vaga na Câmara Municipal com 2094 votos de confiança. Com uma campanha marcada pelas incertezas da pandemia de Covid-19, com muito mais ações virtuais que presenciais e que coroaram nosso trabalho construído a muitas mãos ao longo dos últimos anos