A compra de insumos, o andamento da vacinação e o colapso das estruturas de saúde em Santa Catarina foram alguns dos temas discutidos na manhã desta quarta-feira (09) na Audiência Pública realizada entre a Câmara Municipal de Florianópolis e a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc). Fruto de uma proposição da vereadora Carla Ayres (PT), membra da Comissão de Saúde na Câmara Municipal e do deputado estadual Neodi Saretta (PT), que também é presidente da Comissão de Saúde da Alesc, a atividade contou com a participação de autoridades responsáveis pelo combate à pandemia no estado de Santa Catarina e no município de Florianópolis, líderes sindicais, parlamentares das duas casas legislativas, além de técnicos e especialistas na área da saúde.
A realização da Audiência Pública entre a Câmara Municipal de Florianópolis e a Alesc buscou fortalecer a articulação entre os legislativos municipal e estadual, no sentido de uniformizar as ações de combate à pandemia e buscar alternativas para que esse enfrentamento seja mais efetivo e célere na contenção do vírus. Dados do Vacinômetro, do Governo do Estado de Santa Catarina, apontam que, até o momento, 1.910.816 pessoas receberam a primeira dose da vacina, o que representa 26,35% da população, e 756.930 já receberam a segunda dose, o equivalente a 10,44% da população catarinenses.
Em sua fala, a vereadora Carla Ayres destacou o número de mortes em Santa Catarina que até ontem (08) alcançava 15.747 vítimas e reforçou a importância de ampliar a vacinação, bem como de se desenvolver estratégias efetivas para evitar uma terceira onda da Covid-19 no estado. A vereadora pontuou, ainda, que durante a segunda onda, quando houve o colapso do sistema de saúde em Santa Catarina, 48 pessoas morreram à espera de um leito de UTI, apenas no mês de abril, de acordo com informações do Conselho Municipal de Saúde de Florianópolis. Em todo o Estado, 266 pessoas perderam a vida enquanto aguardavam por um leito de UTI no mês de março deste ano.
Carla Ayres também cobrou explicações do Governo do Estado quanto às informações do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina que dão conta de que o governo investiu menos do que poderia no enfrentamento à pandemia, tendo gasto R$ 450 milhões dos R$ 1,8 bilhão disponíveis. A vereadora também cobrou a inclusão das lactantes no grupo prioritário de vacinação e a liberação das doulas, que já foram imunizadas, no acompanhamento de pacientes nos hospitais e maternidades de Santa Catarina.
O presidente da Comissão de Saúde da Alesc, deputado Neodi Saretta, acrescentou que, “mesmo com bom índice de imunização no comparativo com outras cidades, o estado como um todo está andando a passos lentos na imunização, com poucas doses disponíveis e a ameaça de uma terceira onda de Covid-19”.
O deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB), que é vice-presidente da Comissão de Saúde, lamentou a desinformação em relação à importância das vacinas e recomendou que a população mantenha as medidas preventivas. “Estamos vivendo uma dificuldade perversa de uma contrainformação maligna que é engendrada para fazer entender que a doença não é tão grave”, lamentou. Dr. Vicente também lamentou que a compra da vacina Sputnik pela Fecam tenha sido atrasada pelas autoridades em cinco meses, por razões inexplicáveis.
Dentre os encaminhamentos tirados a partir da Audiência Pública, estão: a permanente articulação pela compra de vacinas para Santa Catarina; a intensificação da busca ativa de pessoas aptas a receberem a vacina; o fortalecimento das campanhas de informações pró-vacina; a ampliação dos pontos de vacinação em todo o estado de Santa Catarina; o fortalecimento dos protocolos e de pontos de barreiras sanitárias com o intuito de conter a propagação do vírus e evitar a chegadas de novas cepas ao estado.
Também participaram da Audiência Pública os deputados Jair Miotto (PSC) e Valdir Cobalchini (MDB), além do vereador Renato da Farmácia (PSDB) e a vereadora Pri Fernandes (Podemos), respectivamente presidente e vice-presidenta da Comissão da Saúde da Câmara Municipal de Florianópolis.
Confira abaixo algumas das intervenções realizadas na Audiência Pública:
Dr. Oscar Bruna Romero, subchefe do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina, destacou que o Governo Federal tem adquirido predominantemente vacinas da Pfizer, porém as doses dessa vacina são menores, o que dificulta a aplicação com as seringas disponíveis na rede pública de saúde. Ele reforçou a necessidade da presença de profissionais especializados em vacinação na coordenação desse processo, para que problemas como este possam ser identificados e solucionados para agilizar o processo de imunização. Dr. Romero também destacou a necessidade de o poder público construir uma comunicação mais efetiva, no sentido de combater a desinformação e promover a importância da vacina.
Alexandre Lecina, secretário adjunto da Secretaria de Estado da Saúde, ressaltou que as ações do Governo de Santa Catarina têm sido norteadas pela ciência e por técnicos, contudo, a atenção primária, a qual inclui a vacinação da população, tem suas estratégias elaboradas pelos municípios. O secretário adjunto afirmou que o Governo do Estado solicitou aos municípios que fossem ampliados os pontos de vacinação, para que o processo de imunização possa ser acelerado em todo o território catarinense.
Dr. Eduardo Macário, superintendente de vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, destacou que “a população está enfrentando uma epidemia de fake news dentro da epidemia da Covid-19” e que as mentiras divulgadas pela internet fizeram com que alguns tipos de vacina fossem recusadas por parte da população, o que tem impactado a velocidade da imunização. “Isso atrapalha a velocidade da vacinação e não tem nenhum fundamento, porque a vacina boa é aquela disponível para ser tomada com as duas doses” concluiu o superintendente.
Renê Marcos Munaro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem), ressaltou a necessidade de investimentos em uma política efetiva de testagem junto à população e aos servidores públicos e destacou a exaustão dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, que estão em situação de exaustão, por conta da carga de trabalho desde o início da pandemia. Renê pontuou que os quadros do funcionalismo precisam de recomposição, chamando mais trabalhadores para fortalecer o atendimento, sobretudo na atenção básica.
Luiz Carlos Vieira, coordenador estadual do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Santa Catarina (SINTE-SC), denunciou que em muitas unidades escolares, o plano de contenção contra a pandemia ficou apenas no papel. “Nós precisamos da segunda dose para garantir a imunização e não apenas dos profissionais de educação, mas de toda a comunidade, pois sem a imunização de todos a comunidade escolar se torna um vetor de transmissão do vírus”.
A audiência na íntegra pode ser acompanhada no link: https://youtu.be/fYqdbyQgYpU