Mulheres pela Democracia em Santa Catarina divulga Carta Aberta

           Na tarde do último sábado (26), foi realizado um encontro, em Florianópolis, promovido pela vereadora Carla Ayres (PT), para discutir uma maior participação das mulheres na construção da Frente Democrática em Santa Catarina e discutir o fortalecimento das candidaturas femininas nas eleições de outubro. O objetivo do evento foi trazer as mulheres para o centro do debate político no estado, frente à crise de representatividade aprofundada nos últimos anos. A iniciativa reuniu representantes do PT, PSB, PDT, PSOL, UP e PCdoB e resultou na criação do movimento Mulheres pela Democracia em Santa Catarina.

O encontro representa um grande esforço coletivo para discutir os rumos da política catarinense e brasileira, tendo em vista que a democracia no Brasil atravessa um de seus momentos mais conturbados. O diagnóstico inicial do movimento, é o de que as construções feitas até o momento colocaram as mulheres à margem do debate político. Neste sentido, torna-se importante fortalecer o processo de legitimidade institucional através da pluralidade, com a inclusão das mulheres nos espaços de discussão da Frente em Santa Catarina. Até o momento, as discussões não se aprofundaram na possibilidade de termos mulheres sendo representadas na chapa majoritária, o que demonstra a importância do movimento para que essa construção possa ser de fato representativa das pautas e anseios da população catarinense. Outras pautas também foram discutidas no encontro, como a importância de se combater os retrocessos nas conquistas históricas das mulheres e a adoção de medidas de combate à violência de gênero na política.

            Participaram do encontro, nomes como o da vereadora Marlina Oliveira Schiessl (PT) de Brusque; Júlia Andrade Ew (UP) – Presidenta da UP Santa Catarina; da vereadora Cíntia Moura Mendonça, da Coletiva Bem Viver (PSOL) de Florianópolis; de Jordana Vanessa Sage (PDT), Presidenta da AMT-SC; Bia Vargas (PSB), Giovanna Maria Poeta Dobes representando o mandato da deputada estadual Luciane Carminatti (PT); Ingrid Sateré Mawé (Movimento Bem Viver Santa Catarina) e o da ex-senadora Ideli Salvatti (PT);. Também participaram por vídeo: Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT; Claudia Maria Dadico, juíza federal e secretária da Associação de Juízes pela Democracia e Giovana Mondardo, vereadora do PCdoB em Criciúma. Nos próximos dias o movimento Mulheres pela Democracia em Santa Catarina deve realizar um novo encontro para ampliar as discussões.

Confira abaixo a Íntegra da Carta Aberta divulgada pelo Movimento:

CARTA ABERTA DAS MULHERES PELA DEMOCRACIA EM SANTA CATARINA

            O projeto político do campo democrático apresentado ao povo catarinense, deve ser inclusivo e representar a pluralidade da nossa população. Foi com base nesta inquietação, que mulheres de seis diferentes partidos (PT, PSB, PDT, PSOL e PCdoB), além de representantes de diversos outros movimentos sociais e instituições se reuniram para refletir conjuntamente sobre como mudar essa realidade e poder incidir concretamente na construção da Frente Democrática em Santa Catarina, no sentido de acesso à informação, participação nas discussões e construções políticas. O movimento Mulheres pela Democracia em Santa Catarina, nasce do anseio pela representatividade e do entendimento de que a legitimidade passa invariavelmente pela representação da diversidade nos espaços de poder e decisão.

            O golpe contra a presidenta Dilma e o assassinato da vereadora Marielle Franco evidenciaram ainda mais a violência, o machismo e a misoginia utilizados para deslegitimar ou retirar as mulheres dos espaços de poder. Desde então, o que se viu por todo o país foi um aprofundamento da perseguição e da violência política contra as mulheres, principalmente contra nós, do campo progressista e defensoras dos direitos humanos. Somado a isso, a pandemia da Covid-19 também contribuiu para agravar a situação das mulheres no nosso país, seja pela violência doméstica, ampliada pelo isolamento social, ou pelo crescimento da fome e da pobreza extrema, reflexos de uma desigualdade social aprofundada pelo governo que aí está. Frente a este cenário, é indispensável que os partidos deem o apoio necessário para que as mulheres alcancem os espaços de poder, mas, sobretudo, que possam permanecer nestes espaços.

            Precisamos compreender que as estruturas de dominação existentes na sociedade brasileira, também se fazem presentes nas representações partidárias, independente do espectro político. Entretanto, o fato de serem espaços de discussão e disputa, faz com que esse mecanismo de opressão tome proporções ainda mais simbólicas. Portanto, tentativas de colocar as mulheres à margem da discussão política devem sempre ser combatidas, pois são parte dessa estrutura que busca o silenciamento da voz feminina.

            Entendemos que a cidadania e a democracia nas esferas de poder se consolidam a partir do momento em que os diferentes indivíduos que compõem o nosso tecido social, se veem representados nestes espaços. Contudo, há um movimento neoliberal e conservador que se apropria dessas conquistas para combater esses mesmos direitos e até mesmo retroceder em algumas pautas. Tendo em vista que vivemos uma dramática crise democrática no Brasil, com uma sensível perda de confiança nas instituições, reiteramos a importância de fortalecermos o processo de legitimidade institucional através da pluralidade.

Neste sentido, ressaltamos que nossas vivências diversas e o repertório dos movimentos feministas, de mulheres do campo e da cidade, negras, brancas e indígenas, de mulheres cis e trans, heterossexuais e LBTI+, de diferentes classes sociais, religiões, faixas etárias, escolaridade, corpos, deficiências e regiões do Brasil, compõem as premissas para a construção de uma sociedade mais democrática. Com base nesse pressuposto, conclamamos todo e qualquer projeto político, que pretenda falar em nome da democracia e sua reconstrução no atual contexto, a necessariamente refletir essa pluralidade em todas as suas instâncias: discussões políticas, estratégias, plano e programas políticos, além de suas nominatas de candidaturas com viabilidade. Por isso, estamos empenhadas na busca pelo fortalecimento das candidaturas das mulheres do campo progressista nas eleições de outubro e na representatividade delas na chapa majoritária.

O movimento Mulheres pela Democracia em Santa Catarina nasce com a certeza de que a luta por protagonismo, voz, visibilidade e poder de escolha é urgente. Não permitiremos que nossos anseios e nossas vozes sejam apagadas. Por isso, buscaremos a abertura do diálogo e, futuramente, o compromisso de que o projeto político a ser apresentado à Santa Catarina será radicalmente democrático e considerará as desigualdades e múltiplas diferenças das mulheres do nosso estado.

Assinam esta carta:

Carla Ayres – Vereadora (PT) em Florianópolis

Cintia Mendonça – Co-vereadora da Coletiva Bem Viver (PSOL) em Florianópolis

Giovana Mondardo – Vereadora (PCdoB) em Criciúma

Maria Tereza Capra – Vereadora (PT) em São Miguel do Oeste

Marlina Oliveira Schiessl – Vereadora (PT) Brusque

Anna Julia Rodrigues – Presidenta da CUT Santa Catarina

Angela Albino – (PCdoB)

Beatriz Vargas – (PSB) de Criciúma

Shay Ferreira – Assessora parlamentar

Clair Castilhos – Casa da Mulher Catarina

Claudia Maria Dadico – Juíza federal e Conselheira da AJD (Associação Juízes para a Democracia)

Eliane Schimidt – Presidenta do PT Florianópolis

Giovanna Maria Poeta Dobes – Assessora parlamentar

Ideli Salvatti – Membra do Diretório Nacional do PT

Ingrid Sateré Mawé – Movimento Bem Viver Santa Catarina

Leidiane Sampaio – Assessora parlamentar

Luci Teresinha Choinacki – Ex-deputada federal

Jeane Adre Rinque – Educadora e militante do movimento feminista

Jordana Vanessa Sage – Presidenta da AMT-SC (PDT)

Josiane Fátima de Souza – Vice-presidente do PSB de Içara

Rafaela Kohler – Assessora parlamentar

Taylini Silva – representante Secretaria Estadual de Mulheres do PT

Teresa Kleba Lisboa _ Pesquisadora e coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG/ UFSC)

Mulheres pela Democracia em Santa Catarina divulga Carta Aberta
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