Violência contra lésbicas expõe a necessidade de se debater as questões de gênero

Que sociedade pode ser considerada desenvolvida, se ainda tolera que pessoas sejam assassinadas por sua orientação sexual ou identidade de gênero? No Brasil, por mais que a luta dos movimentos LGBTI+ tenha obtido conquistas históricas, infelizmente a realidade da violência ainda não foi superada. 

O mais recente relatório do Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ aponta que apenas em 2020, foram registrados 10 óbitos de lésbicas no nosso país. Contudo, o número pode ser ainda maior, visto que há muitos casos em que a orientação da vítima não é notificada, fruto da invisibilidade lésbica, tampouco a motivação lesbofóbica do crime é considerada pelas autoridades policiais que registram as ocorrências. Não bastasse o número absurdo de mortes, as mulheres lésbicas ainda sofrem com o chamado “estupro corretivo”, um crime geralmente cometido por familiares das vítimas. De acordo com um levantamento do site Gênero e Número, 6 lésbicas foram estupradas por dia em 2017, em um total de 2.379 casos registrados. Em 61% dos casos notificados, a vítima foi estuprada mais de uma vez. 

O lesbocídio (morte de lésbicas por motivo de lesbofobia ou ódio, repulsa e discriminação contra a existência lésbica) tem sido silenciado dentro das estruturas de poder que invisibilizam as pautas do movimento LGBTI+ e que buscam normalizar a violência contra essa população. Outro dado alarmante é em relação aos casos de suicídio. Dados do Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil apontam que de 2014 a 2017 foram registrados 33 suicídios no país, em sua maioria com lésbicas na faixa de idade entre 20 e 24 anos, vindo em seguida a faixa etária de até 19 anos. Ambas as idades concentram 69% dos casos de suicídios de lésbicas no Brasil.

Como você pôde ver nos dados citados anteriormente, os levantamentos sobre casos de violência contra lésbicas são oriundos de pesquisas realizadas por ONGs e movimentos sociais, o que exemplifica a negligência do poder público em relação ao tema. A lesbofobia estrutural que está enraizada em nossa sociedade, também é produzida pelas estruturas de Estado. Por isso, ocupar os espaços de poder e pautar o debate público sobre o tema é tão importante. Neste sentido, nossa eleição para a Câmara Municipal de Florianópolis, em novembro de 2020, foi um importante marco na história de Florianópolis.

Florianópolis tem primeira vereadora lésbica

Como primeira mulher assumidamente lésbica eleita para o legislativo municipal, tenho a missão de mostrar para todas as lésbicas da nossa cidade que este também é um espaço que pertence a elas. Temos atuado no sentido de garantir os direitos e cobrar a efetivação das políticas públicas em defesa de lésbicas e demais orientações sexuais e identidades de gênero que compõem o movimento LGBTI+. Ainda há muito a ser feito, não apenas na esfera municipal, mas também em âmbito estadual e federal. Contar com representantes LGBTI+ nos espaços de poder e decisão é crucial para a garantia dos nossos direitos e para lutar contra os retrocessos sociais que o Brasil vem enfrentando.

A ascensão da extrema direita e de setores conservadores da sociedade representam uma ameaça real aos direitos tão duramente conquistados nos últimos anos. Por isso, precisamos nos organizar de modo a garantir cada vez mais representantes da população LGBTI+ em todas as esferas de poder. Além do mais, cabe aos eleitos e eleitores lutar pela garantia de nossos direitos, por mais oportunidades, pelo combate incessante da violência contra nossos corpos e nossas vidas e para que sejamos respeitadas todos os dias e em todos os lugares.

Violência contra lésbicas expõe a necessidade de se debater as questões de gênero
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